
JUNTOS
A vida, em sua dimensão plena, encostou na gente e cobra uma maneira de ser e agir diferente num mundo exausto em que as pessoas podem ou não fazer alguma coisa.
A pergunta: “O que devo fazer?” há muito tempo perambula a cabeça de pensadores preocupados com as ações morais de seu tempo e, assim, subindo-descendo a escada indefinida da História, o homem construiu a noção de indivíduo – ser indivisível – conectado com a sociedade e com tudo que permeia as diferentes estruturas que a sustentam. O que nos leva a crer que só somos porque existe o outro que é junto comigo. Eu só sou porque os outros o são. Só serei quando todos forem e isso independe do quê.
Os contratualistas, grupo de pensadores da Modernidade, que investigaram os motivos que nos levaram a conceber a vida em sociedade por meio de um contrato social, divergiram e foram a caminhos bem diferentes para pensar sobre as características de nossa natureza. Um dizia que somos ruins (Hobbes) e a sociedade nos ameniza, impedindo-nos de matarmos uns aos outros; outro que somos “neutros” (Locke) e que tudo depende do lugar e das pessoas que conhecemos ao longo da vida; e, enfim, um deles dizia que somos bons (Rousseau) e a sociedade nos corrompe.
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Olhando para a régua da Humanidade, debateremos, por mais um bocado de tempo, cada dia e cada hora que vivemos sem exatidão. Tenho comigo que todos eles têm um pouquinho de razão e cá entre nós, ter razão em tempos (in)tensos não é lá grande vantagem. Suponho tê-la por hora e de nada adianta se não estamos dispostos a usá-la de fato.
O bom, como diz uma bela canção de Emicida, está nas pequenas alegrias da vida adulta. Outra menção singela à razão, mas elegendo minunciosamente que existe uma idade para lançar mão dela, nesse caso a vida adulta, tal como anunciou Kant, que usar a razão é mostrar-se maduro. Cabe observar, também, na tal “das alegrias” mencionadas, o que são elas?
Independentemente de uma natureza que nos define ou de uma razão que nos localize em relação ao tempo, a quantidade de perguntas para vivermos uma vida melhor nos cobra uma certa disposição dos sentidos: o olhar disponível, a escuta atenta e uma fala acolhedora.
Ter as respostas é tema do samba enredo das nossas vidas, chegamos a crer, via séculos das luzes (século XVIII), século das clarezas, que iríamos levar a vida a outro patamar. Balela. Bombas, misérias, desigualdade e distância; abismos autoprovocados pela ganância e outas coisas mais.
A vida quer de nós uma maneira de aceitar os temores inesperados com leveza e respiro, aceitando nossa pobre humanidade errante, sem o conformismo arrogante. A vida quer de nós a capacidade de se autoexaminar diariamente, para que essa mesma vida aconteça no eu de cada um em conexão com os outros. A vida pede para nós, nas palavras de Rosa, coragem, e acrescento, um algo mais que talvez nem saibamos, mas que juntos e alertas afetivamente, aprenderemos.